quarta-feira, 6 de maio de 2009

Resenha do filme Nós que aqui estamos por vós esperamos




Nós que aqui estamos por vós esperamos é a frase que o diretor Marcelo Masagão encontrou cunhada no portal de entrada de um velho cemitério no interior de São Paulo. E aconteceu aquela coisa tão comum nas artes: o acaso buscou perpetuar-se. É esta sentença que nos alerta, ou melhor, que nos devolve o senso de humildade, que marca a proposta do filme, que é a de discutir a banalização da morte e, por extensão, a banalização da vida. E Masagão consegue então construir um poema visual - quase não há palavras - pois o filme que nos apresenta constrói-se de breves momentos do século XX perpetuados pelo registro perspicaz, ou apenas incidental, de velhas câmeras e anônimos cineastas do acaso. Uma profusão de imagens que se sucedem, envolvem-nos em uma trama fortuitamente tecida e que desafiam àqueles que crêem no plano da vida, na linearidade dos acontecimentos. Imagens que nos transportam da dor, do sentimento de vergonha em relação ao ser humano, ao encantamento, ao deslumbramento, pois é humano, e sempre "demasiadamente humano", o ódio e o amor. Portanto, não é um filme pessimista, é um poema, e como tal, desequilibra. E o primeiro desequilíbrio que nos abre os olhos foi percebermos que aqueles que vistos na tela, pessoas comuns que possuíam uma data de nascimento, um nome e, porventura, sonhos, eram pessoas comuns! Eram, sim, e que contribuíram, consciente ou inconscientemente, na construção deste mundo que com tantos prazeres e desprazeres nos brinda hoje. Pessoas esfalfadas no cansaço provocado pelo sempre tão importante trabalho; pessoas felizes, que sorriam, gargalhavam até, ou pessoas desesperadas, naufragadas em prantos. O século XX foi estas pessoas e aquilo que sonharam ou deixaram de sonhar! E um dia também esperaremos nós, e que sejamos lembrados por aquilo que fizemos! Ao "esperarmos" não queremos que lembrem o século XXI pelas torres que tombaram, nem pelos corpos insepultos dos palestinos tão covardemente assassinados e dos judeus vitimados pelo ódio. Não queremos que se nos lembrem pelo sangue que manchou a pequena ilha do Timor (e que ainda mancha), mas pelo aroma do sândalo que voltará a recender na terra "em que o Sol nasce primeiro". Ainda há tempo, o século apenas inicia, e sonhar que o silêncio dos funerais pode ser substituído pelo silêncio daquele que ouve e, ouvido, sabe compreender e, sabendo compreender, aprende a conviver, ainda é possível. “Nós que aqui estamos por vós esperamos", também esperaremos... E que o próximo filme possa mostrar que a banalização da vida ensinou-nos a valorizá-la. Afinal, o século XXI seremos nós, nossos prantos e nossos sorrisos, nossos sonhos e aquilo que deixamos de sonhar.


Ficha do filme Nós que aqui estamos por vós esperamos. Título original: Nós que aqui estamos por vós esperamos. Título em inglês: Here We Are Waiting for You . Tempo de duração: 73 minutos. País: Brasil . Idioma: Português. Cor: Preto e Branco / Colorido. Diretor:MarceloMasagão. Roteiro:MarceloMasagão. Gênero: Documentário.
Ano de lançamento 1998.

2 comentários:

  1. Esse filme realmente é bom e precisava fazer uma resenha isso era tudo q precisava. obrigado.

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  2. Estamos renovando informações periódicamente para sua satisfação ,obrigado

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